Em um determinado momento de
minha trajetória profissional “tive” que escolher: ou seguia dando aulas no
ensino fundamental ou dava continuidade aos estudos. Tinha meus projetos
pessoais e também queria fazer bem feito aquilo a que eu me propusse fazer. E
não vou mentir: tinha que avaliar as condições financeiras que enfrentaria ao
longo de minha vida. Será que é apenas visando o acréscimo do salário (que
todos nós sabemos que é ínfimo) que alguns professores dão prosseguimento formal e sistematizado aos seus estudos?
Fiz questão de destacar os
termos acima porque, para mim, é quase óbvio que professor que não estuda tem
sua morte intelectual decretada uma semana depois de sua formatura (e não estou
me referindo apenas a atualização de conteúdos). Dizem que essa é uma verdade
para qualquer profissão no mundo atual no qual a produção de conhecimentos se
dá em uma velocidade absurda e sua divulgação e acessibilidade (via televisão,
rádio e, principalmente, Internet) está aí para quem se interessar. Nossa
profissão, especificamente, requer o contato com o que está sendo pensado e
produzido por outros educadores, além de filósofos, psicólogos e sociólogos da
educação. A ideia de que o conhecimento e as experiências devem ser
compartilhados entre aqueles que estudam e vivem a realidade da educação e do
ensino não é apenas um chavão é, sim, uma demanda concreta de aprimoramento do
trabalho docente.
Voltando à questão que
intitula este post: por que será que
o professor que estuda, que se especializa em sua disciplina, acaba saindo da
escola? Tem professor mestre ou doutor em escolas públicas (por favor, excluam
os Colégios de Aplicação, o Pedro II e os Colégios Militares) e na grande
maioria das escolas particulares? Sabemos que a resposta é negativa. Baseada no
que tenho vivenciado na minha ainda curta experiência profissional posso dizer
que boa parte de meus ex-licenciandos que fizeram mestrado, ao avistarem a
possibilidade de receberem bolsas, abandonaram seus cargos nas escolas. Isso
aconteceu comigo. Minha pergunta é: por que esses professores não voltam para
as escolas ao término da pós-graduação stricto
sensu? Sabemos que hoje existem os mestrados profissionais que pretendem
justamente aprofundar a formação dos professores atuantes nas escolas visando,
em última instância, a melhoria do ensino. Posiciono-me favorável a realização
desses cursos desde que eles não se tornem uma mera “capacitação de luxo” de
longa duração em centros universitários de excelência. A realidade é que boa
parte daqueles que optam pelo mestrado (acadêmico), quando conseguem a licença
ou o afastamento remunerado nas redes municipais e estaduais, retornam às
escolas desestimulados e ansiosos por voltarem (definitivamente) ao ambiente
acadêmico. É triste constatar que a escola é um objeto de estudo que rende
dissertações e teses em um número gigantesco a cada ano e que os próprios
professores, quando assumem o papel de pesquisadores, acabam se afastando
daquele cenário (algo que não pode ser naturalizado e que devemos refletir a
respeito).
Faço, ainda, outra
pergunta: a rotina do profissional da educação faz com que ele tenha que optar,
em algum momento, pela academia ou pela escola? Quando emprego o verbo Ter estou ressaltando a obrigatoriedade
da escolha, ou melhor, a impossibilidade de conciliação entre o estudo, a
pesquisa e a atuação docente. Tem como continuar sendo professor (na escola) e
assumir o papel de pesquisador (na universidade) sem que haja uma sobreposição
de papeis? Esse perfil profissional seria interessante para as duas
instituições? Alguns poderão (apropriadamente) mencionar perspectivas teóricas
e metodológicas como a pesquisa-ação ou os estudos sobre professores
pesquisadores. Mas não são a estas “saídas” próprias da academia a que me
refiro. Estou tentando suscitar uma questão muito mais de cunho prático (e,
convenhamos, são com questões pragmáticas que o professor lida no seu dia a
dia) que nos leva a refletir sobre as reais demandas do professor e das
possíveis (e concretas) relações que um professor que está na escola pode
estabelecer com a universidade (sem que ele tenha que optar por uma delas!).
Neste momento, os formadores de professores (estou inclusa aqui) retrucarão:
“temos projetos de extensão, promovemos cursos de formação continuada,
organizamos eventos científicos que buscam o diálogo com o professor da
escola”. Correto. Mas, ainda assim, parece haver aí um interstício considerável
no que diz respeito à aproximação do professor com aquilo que está sendo
pensado na academia. Não é a toa que os professorem frequentemente reclamam das
pesquisas que não retornam à escola e das imposições que vêm de “cima para
baixo”.
No final das contas, uma
coisa não podemos deixar de reconhecer: ao ocupar o status daquele que “discute de fora” a educação, o professor jamais
voltará a ser o mesmo. Se isso é bom ou ruim deixo para que cada um que viveu
(vive) a situação que reflita e compartilhe com seus pares.
Devo confessar que acerca
desse assunto possuo muito mais perguntas do que propriamente respostas
definitivas. Algo que, por um lado é angustiante, mas que por outro tem me
estimulado a refletir sobre as questões mencionadas.
Depois que sai da escola,
tornei-me estudante de pós-graduação e já ao final do doutorado assumi o cargo
de professora universitária. Assim, somente retornei a ela na figura de
professora supervisora de licenciandos que estagiavam na educação básica. Outro
lugar social, um olhar distinto sobre as relações que acontecem na escola. Esta
mudança certamente suscitou em mim inúmeras perguntas – algumas delas eu venho
buscando transformar em questões de pesquisa – e explorarei outras aqui no Blog
em devidas oportunidades.
Olá Tatiana e demais colegas
ResponderExcluirÉ essa parece ser uma regra, mas há exceções. Eu, por exemplo, estou na pós-graduação desde a minha especialização em ensino de Biologia pela UFF em 1992. Lá fiz uma especialização interdisciplinar na qual pude discutir muitos aspectos do ensino de ciências. Na época dava aula na escola privada e pública. Depois em 2003 entrei para o mestrado em Educação na UFF na linha de pesquisa educação em ciências, estudei o laboratório de ciências nas suas possibilidades e limites para o ensino de ciências. E agora termino o doutorado em educação em ciências e saúde no Nutes e ainda estou em sala de aula, agora apenas na escola pública. Então no meu caso eu diluí o estudo nos anos de trabalho de sala de aula. Agora prestes a me aposentar vou de fato sair de sala de aula e talvez se tudo der certo trabalhar com formação.
Foi bom deixar aqui minha contribuição, e uma coisa é certa adoro ser professora de ciências!!! bj
Cristina Moreira