Daí também se deriva a ideia
de que o magistério pode ser um trampolim para outras carreiras. E tive a
constatação disso em meu primeiro dia de aula em uma turma de calouros da
licenciatura em Biologia. Como sempre dei aulas para turmas concluintes dos
cursos de licenciatura (nas disciplinas de Prática de Ensino, Estágio
Supervisionado e Trabalho Final de Graduação) eu nunca senti a necessidade de
questionar os alunos sobre suas motivações pela escolha do magistério. Pensava
que se eles estavam concluindo o curso era porque eles tinham convicção de que
seguiriam atuando na escola. Hoje eu me questiono sobre isso...
Voltando aos calouros. Como
queria ter um perfil da turma e uma ideia de suas visões de ensino e da
Biologia pedi para que eles completassem duas frases. As respostas foram
separadas em categorias por afinidade de sentidos (tive a ajuda de dois alunos)
e colocadas no quadro para que pudéssemos discutir o resultado depois. A
primeira frase “Eu quero ser professor de
Biologia...” foi a que apresentou menor variedade de respostas mas,
certamente, estas foram as que mais me surpreenderam. Dos 34 licenciandos
presentes, 11 disseram que não queriam ser professores, eles estavam ali porque
não conseguiram aprovação em outros cursos, inclusive no bacharelado que é mais
concorrido. Vários deles demonstraram em nossa conversa que tinham interesse em
pesquisa em diversas subáreas da Biologia e desconheciam a pesquisa em ensino
de Biologia. As respostas dos demais oscilaram entre “porque eu gosto de
ciências/biologia”, “porque eu tive bons professores de biologia que me
influenciaram”, “porque eu quero ensinar biologia”. Esta última foi a que
apareceu em menor número além daquelas respostas que não foram agrupadas. Confesso que fui pega de surpresa com algumas
das respostas porque ficou claro que a escolha pela licenciatura não é
necessariamente feita pela intenção explícita de atuação no ensino. Por outro
lado, elas confirmam de algum modo o que coloquei acima: ninguém nasce com o
“dom” para o magistério. Isso é algo que é descoberto e que pode ser valorizado
(ou não) pela pessoa fazendo com que ela opte (ou não) por se tornar (e se
formar) professor. A segunda frase “Um
bom professor de Biologia é...” gerou respostas diversificadas. Vários
comentaram a importância do professor despertar a curiosidade e o interesse dos
alunos pela Biologia a partir de atividades lúdicas e da interação com estes.
Outros disseram que o bom professor de Biologia é dinâmico, crítico,
atualizado, bem humorado, inovador e respeita o aluno. Os termos “louco” e
“maluco” apareceram em duas respostas no sentido de ser descontraído e inquieto
perante o saber. Alguns comentaram que ele deve dominar o conteúdo para
ensiná-lo ao aluno e outros ressaltaram que esta não é condição exclusiva para
o bom desempenho do professor. Uma resposta em especial gerou bastante
discussão: “é aquele que representa a ciência”.
Acho que dá para imaginar o motivo.
Abro pequeno parêntese aqui
para dizer que na apresentação dos alunos na disciplina de Ciências da Natureza
do curso de Pedagogia obtive a informação parecida, ou seja, a maioria dos
futuros pedagogos não pretende ser professor (e estes estão já no sexto
período!).
De forma geral, esta
atividade simples me levou a refletir sobre questões relacionadas à construção
da identidade docente e da própria opção pelo magistério. A formação inicial
destes licenciandos deve ser quase impecável no sentido de que devemos fazer
com eles reflitam sobre o que é ser professor (de ciências e biologia) pois não
podemos jamais apresentar a prática docente como atividade simplista,
transmissionista e mecânica (neste caso, qualquer um poderia ser professor, não
é mesmo?). Espero, ao menos, conseguir deixar aquela sementinha plantada nas
mentes deles agora no início para que ela germine no decorrer de sua formação.
É tudo culpa da academia!!! Triste sentimento de poder que domina as mentes de quem detém o conhecimento.... e que define as "regras do jogo"....
ResponderExcluirPerdi a bolsa de mestrado para assumir o trabalho de professora na escola e estou me propondo a fazer o doutorado trabalhando em duas escolas, seria eu uma exceção?! Até quando resistirei?! rs
Sigo lutando....
bjinhos Tati
Dani, seu comentário caiu como uma luva ao post que acabei de colocar. Você é realmente uma excessão. Está na universidade e valoriza sua atuação na escola pública. Para você faz todo o sentido mas quem está na academia deve te achar louca! Sobre até quando você irá resistir... O doutorado poderá te dar uma resposta (ou não!). Bjos
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