sábado, 2 de março de 2013

Por que ensinar ciências mesmo?


      Em post anterior comentei sobre a(s) função(ões) da escola em nossa sociedade e a percepção da mesma pelos estudantes. Acredito que, da mesma forma que existem várias correntes na Sociologia da Educação que propõem diferentes funções e papeis da instituição escolar, na Educação em Ciências observamos movimentos distintos ao longo de sua constituição e desenvolvimento os quais buscam/buscaram justificar a inserção de conhecimentos científicos nos currículos da escola básica. 
    Traçamos um caminho que foi desde uma argumentação puramente tecnicista ou conteudista, passando pela necessidade de estimular os alunos a seguirem carreiras científicas até uma justificativa que envolve a necessidade de que nossos alunos consigam compreender conceitos científicos e, ao mesmo tempo, deem conta de colocá-los em prática a partir de tomadas de decisões sobre assuntos que envolvem a Ciência e a Tecnologia[1]. Atualmente, eu penso que essas três finalidades não se excluem e são válidas desde que nenhuma delas seja compreendida de modo raso e estrito.
            O aluno tem que sair da escola, depois de passar anos tendo aulas de ciências naturais, sabendo conteúdos básicos de Biologia, Geociências, Física e Química. Além disso, ele tem que não apenas conhecer os conceitos mas entender sua origem, ou seja,  compreender aspectos da Natureza da Ciência (como o conhecimento científico é produzido, por quem, quais os interesses envolvidos nessa produção, os impactos de tais conhecimentos na sociedade e por aí vai). Mais recentemente a ideia de alfabetização científica (ou letramento científico, como alguns preferem) trouxe à tona a importância de que o ensino de ciências contemple as relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade e que ele contribua para a formação de pessoas que saibam opinar sobre temas científicos e tecnológicos presentes em seu cotidiano.
Além disso, outros autores argumentam que ensinar ciências sem discutir o que é Ciência, o(s) método(s) científico(s), a atividade científica produtora de conhecimentos passa a ser uma tarefa inócua. E vou além: são pouquíssimos cursos de graduação que possuem disciplinas que proporcionem discussões epistemológicas e sobre a história da ciência. Assim, não apenas os futuros cientistas como os professores de ciências saem da universidade sem refletir sobre aspectos intrínsecos e extrínsecos à Ciência e perdem a oportunidade de problematizar esta atividade social humana e deixam de ter sua curiosidade epistemológica despertada.
Considerando todos esses fatores – que não se esgotam aqui – parece que ensinar ciências não é algo simples. Porém, quando nós professores de ciências (qualquer que seja o nível de ensino) temos claro quais são os nossos objetivos e o que pretendemos quando falamos sobre a Ciência as escolhas relativas aos conteúdos a serem ensinados e aos métodos a serem utilizados são, sem dúvidas, facilitadas.


[1] Para estudo dos objetivos do ensino de ciências (de acordo com perspectivas históricas e críticas), recomendo:
Delizoicov, Demétrio; Angotti, José André; Pernambuco, Marta Maria. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
Krasilchik, Myriam. O professor e o currículo das ciências. São Paulo: EPU, 1987.
Marandino, Martha; Selles, Sandra E.; Ferreira, Marcia S. Ensino de biologia: histórias e práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez, 2009.

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