Em post anterior comentei sobre a(s) função(ões) da escola em nossa sociedade e a percepção da mesma pelos estudantes. Acredito que, da mesma forma que existem várias correntes na Sociologia da Educação que propõem diferentes funções e papeis da instituição escolar, na Educação em Ciências observamos movimentos distintos ao longo de sua constituição e desenvolvimento os quais buscam/buscaram justificar a inserção de conhecimentos
científicos nos currículos da escola básica.
Traçamos um caminho que foi desde uma argumentação puramente
tecnicista ou conteudista, passando pela necessidade de estimular os alunos a
seguirem carreiras científicas até uma justificativa que envolve a necessidade
de que nossos alunos consigam compreender conceitos científicos e, ao mesmo
tempo, deem conta de colocá-los em prática a partir de tomadas de decisões
sobre assuntos que envolvem a Ciência e a Tecnologia[1].
Atualmente, eu penso que essas três finalidades não se excluem e são válidas
desde que nenhuma delas seja compreendida de modo raso e estrito.
O
aluno tem que sair da escola, depois de passar anos tendo aulas de ciências
naturais, sabendo conteúdos básicos de Biologia, Geociências, Física e Química.
Além disso, ele tem que não apenas conhecer os conceitos mas entender sua
origem, ou seja, compreender aspectos da
Natureza da Ciência (como o conhecimento científico é produzido, por quem, quais
os interesses envolvidos nessa produção, os impactos de tais conhecimentos na
sociedade e por aí vai). Mais recentemente a ideia de alfabetização científica (ou
letramento científico, como alguns preferem) trouxe à tona a importância de que
o ensino de ciências contemple as relações entre Ciência, Tecnologia e
Sociedade e que ele contribua para a formação de pessoas que saibam opinar
sobre temas científicos e tecnológicos presentes em seu cotidiano.
Além disso, outros autores
argumentam que ensinar ciências sem discutir o que é Ciência, o(s) método(s)
científico(s), a atividade científica produtora de conhecimentos passa a ser
uma tarefa inócua. E vou além: são pouquíssimos cursos de graduação que possuem
disciplinas que proporcionem discussões epistemológicas e sobre a história da
ciência. Assim, não apenas os futuros cientistas como os professores de
ciências saem da universidade sem refletir sobre aspectos intrínsecos e extrínsecos
à Ciência e perdem a oportunidade de problematizar esta atividade social humana
e deixam de ter sua curiosidade epistemológica despertada.
Considerando todos esses
fatores – que não se esgotam aqui – parece que ensinar ciências não é algo simples.
Porém, quando nós professores de ciências (qualquer que seja o nível de ensino)
temos claro quais são os nossos objetivos e o que pretendemos quando falamos
sobre a Ciência as escolhas relativas aos conteúdos a serem ensinados e aos
métodos a serem utilizados são, sem dúvidas, facilitadas.
[1] Para
estudo dos objetivos do ensino de ciências (de acordo com perspectivas históricas
e críticas), recomendo:
Delizoicov, Demétrio; Angotti, José André; Pernambuco,
Marta Maria. Ensino de Ciências:
fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
Krasilchik, Myriam. O professor e o currículo das ciências. São Paulo: EPU, 1987.
Marandino, Martha; Selles, Sandra E.; Ferreira, Marcia
S. Ensino de biologia: histórias e
práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez, 2009.
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