segunda-feira, 11 de março de 2013

Saúde e sexualidade em livros didáticos: temos avançado?


No semestre passado tive a oportunidade de discutir questões relativas à Saúde e Sexualidade em duas turmas (uma da Biologia e outra da Pedagogia). Entre tantos aspectos que surgiram confesso que dois me chamaram a atenção e fizeram com que eu buscasse outras bibliografias: as relações entre saúde e ambiente e saúde e sexualidade ambas apresentadas (em diferentes níveis de profundidade) em livros didáticos. 
O primeiro deles parece ser mais contemplado tanto nas pesquisas da área de Educação em Ciências quanto nas aulas de ciências. Bom, parece. Existe sim já uma vertente de pesquisa que vem se consolidando a partir da promoção do diálogo entre os mais diversos conceitos de Saúde e a questão ambiental tão cara em nossa sociedade contemporânea. Aqui, a perspectiva CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) tem ajudado alguns teóricos a pensarem as relações interdependentes entre essas três esferas adicionando, de forma cada vez mais representativa, a dimensão ambiental que se encontra implicada quando pensamos os impactos científico-tecnológicos - em nosso caso particular, de uma sociedade de consumo - sobre o ambiente. Por outro lado, ao analisar capítulos de livros didáticos de ciências do primeiro e segundo segmentos do ensino fundamental com os licenciandos (apoiados em artigos de pesquisadores da área) observamos que a Saúde continua sendo abordada com aquele enfoque higienista e prescritivo. A discussão envolvendo saúde e ambiente (tangenciando problemas sociais e econômicos) passa ao largo nos livros didáticos. Em certo sentido, nossas conclusões corroboram o que estes autores apontam em suas pesquisas mas ainda nos chocam na medida que os livros estão em discordância tanto com os Parâmetros Curriculares Nacionais quanto com o que os educadores em saúde têm sugerido fortemente nas últimas décadas.
O mesmo ocorreu quando nos deparamos com os conteúdos relacionados à Sexualidade Humana nos livros  de 6° ao 9° ano. Vínhamos de discussões que contemplaram diferentes aspectos da sexualidade que extrapolam os biológicos e contemplam o psicológico, o moral, o social e o cultural. Ao voltarmos nosso olhar para os livros novamente encontramos um enfoque biologicista com detalhamento de funções dos órgãos reprodutores e um "doutrinamento" de posturas que sugerem o uso de preservativos e métodos anticoncepcionais que mais parecem convencer pela imposição da cultura do medo. Com isso, outros tantos assuntos deixam de ser contemplados como, por exemplo, o aborto e a homossexualidade. Nesse sentido, dois momentos na disciplina da Biologia foram relevantes: duas aulas em que os temas relacionados à Sexualidade foram debatidos de forma aberta e franca e outra em que discutimos um artigo (veja aqui) no qual autoras de coleções didáticas expõem o processo de autoria de livros, mais especificamente da temática Sexualidade. 
Não há como ignorar a importância do livro didático nas aulas de ciências, tanto para o "bem" quanto para o "mal". Eles não são os grandes vilões da educação (em ciências) e (jamais) serão a sua salvação. Mas é sempre válido exercitar um olhar crítico sobre este instrumento ao qual professores e alunos têm livre acesso nas escolas públicas. Não se trata de "culpabilizar" os autores de livros didáticos. É preciso (re)conhecer o processo de editoração, venda e aquisição de livros didáticos como um mercado e, indo mais além, realizar uma leitura crítica deste processo e dos textos e discursos veiculados nos livros.
Ainda não consigo detectar grandes avanços no sentido de um ensino de temas relacionados à Saúde e Sexualidade que promova uma educação científica humanística e progressista quando observo os livros didáticos. Porém, sempre gosto de pensar (e acredito, de fato) que conteúdos e metodologias são sempre definidas, em última instância, pelo professor. Mesmo quando este tem que lutar contra os currículos cada vez mais mínimos e políticas de avaliação (cuja lógica não é educacional) das secretarias estaduais e municipais pelo Brasil afora.

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