domingo, 19 de outubro de 2014

Mensagem reflexiva para o Dia dos Professores

Este ano acabei não deixando uma mensagem no Dia do Professor. Na verdade, todo professor já passou por um momento em que ele se sentiu extremamente desmotivado e chegou a se questionar se seus ideais realmente viriam a ser alcançados dentro do cenário educacional e político em que ele atua. Pois é. Estava (estou?) vivendo este momento porque a instituição em que eu atuo profissionalmente, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), vem passando por um processo de desvalorização completa da atividade docente, de sucateamento do magistério, de desprestígio às ações de extensão e de concentração das atividades de pesquisa nas mãos de poucos iluminados (escolhidos a dedo por sua produtividade).
Trabalhar em um sistema que é regido pela lógica da meritocracia e de total desvirtuação do magistério é cruel. Temos que nos submeter às concepções ideológicas da política de mercado, sem a clareza de qual projeto de Educação, de Universidade e de Escola Básica estamos à mercê. De fato, a estratégia de que sejamos professores e professoras em um país, em estados e em municípios que parecem ser regidos por princípios educacionais bem definidos (afinal, temos uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional desde 1996, temos os Parâmetros Curriculares Nacional, desde 1999/2000 e temos, ainda, os Currículos Mínimos) é apenas uma ilusão do real desvirtuamento da função das instituições de ensino no Brasil. 
Nós, professores e professoras, passamos por um processo de desvalorização e de despolitização desde o início do período da Ditadura Militar. Aquela "rasteira" que levamos com a privação dos nossos direitos mais plenos enquanto cidadãos que deveriam formar outros cidadãos repercute até hoje. Não há como hoje não olhar para o passado, para nossa História, para buscarmos identificar e entender onde paramos, onde retrocedemos e onde avançamos.
Eu não desisti de ser professora universitária da UERJ simplesmente porque acredito que abandoná-la nesse momento é dar as costas a tudo o que acredito. E hoje entendo muito bem porque vários colegas professores da Educação Básica nunca abandonaram suas escolas apesar do péssimo salário, das péssimas condições de trabalho, das agressões (físicas e morais) de alguns alunos, do desrespeito do poder público e do autoritarismo do Estado (por meio de avaliações sistemáticas ou personalizadas nas figuras de seus Secretários e de alguns Diretores).  Nós, professores e professoras, que ainda acreditamos na Educação como instrumento de mudança seguimos firmes. Às vezes, um pouco abalados, outras vezes descrentes. Mas, podem acreditar, dessas crises saímos cada vez mais fortalecidos.
Deixo com vocês, minha mensagem, ainda que atrasada, em homenagem ao Dia dos Professores.

Meus caros colegas, desejo a todos/as que nos momentos difíceis estejamos ainda mais unidos. Porque a mudança deste país, em busca da igualdade social e da democracia plena, passa obrigatoriamente por nossas ações cotidianas. O dia do/a professor/a se comemora hoje mas sabemos que nossa luta é diária. Parabéns a todos/as que fazem do magistério uma profissão digna. Concluo com uma frase do Darcy Ribeiro que traduz em muito minhas últimas reflexões.
(Tatiana Galieta - 15/10/2014)