sábado, 19 de abril de 2014

Professores doentes, escolas abandonadas: o que é possível fazer?

Outro dia estava na sala de espera de um consultório médico e ouvi o desabafo de uma professora. Ela dizia que estava doente, que ela prezava muito por seus alunos, que tinha compromisso com a escola em que trabalhava mas que simplesmente não aguentava mais. À medida que ela descrevia suas experiências em sala de aula as quais envolviam casos de alunos desrespeitosos, mal educados e provocadores, ela perdia o fôlego, respirava com dificuldade e as lágrimas corriam pelo seu rosto. Ela comentou já estar afastada das aulas há alguns meses e que, apesar de querer voltar porque gostava muito de sua profissão, só de imaginar ser novamente agredida pelos alunos e seus pais e desautorizada pela própria direção da escola ela perdia as forças. 
No dia seguinte, ainda muito impressionada com este relato, comentei com meus alunos, licenciandos do primeiro período, sobre esta realidade da educação: professores doentes, escolas abandonadas, alunos e alunas completamente desamparados pela família e pelo Estado. É triste ter que admitir para futuros professores de ciências e biologia que este é o cenário de seu local de trabalho, mas acredito que é extremamente necessário falar abertamente sobre isso com eles já que não são apenas salários defasados e falta de reconhecimento da sociedade que faz com que o magistério seja uma carreira pouquíssimo valorizada.
Falei ainda sobre o desabafo daquela professora com um colega que atua na educação básica. Ele me disse que, infelizmente, já havia passado por algo parecido e que ao ser examinado em perícias encontrava na fila de espera com professores em situações de saúde iguais ou muito mais graves que as manifestadas pela professora de meu relato. Ele disse que lá tinham professores que sofreram agressões físicas por parte de alunos, conviviam com alunos que iam para aula armados, comercializavam drogas e eram constantemente ameaçados. Aí eu pergunto: há o que se fazer nessas condições? Como ensinar qualquer tipo de conhecimento, aquele conteúdo lá do currículo mínimo, falar sobre ciência em uma escola cuja realidade é esta?
Muito professores não resistem. Deixam o magistério sem sequer pensarem duas vezes após a primeira decepção. Mas outros persistem. E são sobre estes que eu conversei com meus licenciandos recém ingressos no ensino superior.
Após alguns deles terem contado sobre suas próprias experiências, como alunos, em que viram professores serem agredidos por seus próprios colegas de classe e concluírem que a solução não está na expulsão de sala ou na reprovação de ano, tentei encontrar respostas para compreender o problema em si. No entanto, em pouco minutos de nossa aula, eu tentei expor que a natureza deste problema é muito complexa envolvendo a desvalorização da educação, a ausência de políticas públicas nacionais e regionais, a alienação da população como um todo que já não identifica na escola uma parceira na formação de valores de suas crianças e adolescentes.  
O que ainda acredito é que o professor tem a faca e o queijo na mão para fazer a mudança. A construção de uma sociedade diferente, mais justa e igual, passa por suas ações. Sigo pensando que o professor que olha nos olhos de seus alunos, que conhece e entende a realidade daquela comunidade em que ele leciona e que se permite envolver nesse contexto é aquele que fará a diferença. Para tanto, ele precisa antes de tudo querer. E, às vezes, querer não é suficiente porque a realidade é cruel. Por isso, de qualquer modo, quero deixar aqui minha solidariedade e meu total e irrestrito respeito a todos/as professores/as que sofrem por não conseguirem exercer sua profissão de forma segura e que estão adoecendo e abandonando o magistério simplesmente por não aguentarem mais.