Até quando as crianças vão acreditar que fazem provas
e exercícios para reproduzir o que foi dito pela professora ou o que está
escrito no livro? Por isso, ciências é chato. É decoreba e nada faz sentido.
São maus alunos (se vêem assim) e cada vez se interessam menos pelas
explicações científicas e perdem a curiosidade. Dói por dentro estudar ciências
com minha filha. Entendam que não estou criticando diretamente os professores.
Antes disso esta é uma crítica a mim mesma e a todos os formadores de
pedagogos. Agora, mais recentemente, estou também assumindo essa
responsabilidade e nesse sentido tenho procurado discutir com os futuros
professores dos pequenos que ensinar ciências para criança não é despedaçar o
corpo humano como um frankenstein em
vários órgãos e sistemas ou simplesmente despejar um monte de conceitos científicos
sem qualquer tipo de conexão com os fenômenos naturais que eles vivenciam e têm,
a princípio, tanta curiosidade. E isso não é apenas nas aulas de ciências, não!
Geografia e história também são ensinadas assim. Tudo no “melhor” estilo
transmissionista que é criticado pela academia há décadas.
Nessas horas eu me pergunto: e o belíssimo discurso
da educação crítica para a formação de cidadãos baseada no construtivismo (“febre”
educacional e slogan dos Parâmetros
Curriculares Nacional)? Essa fala própria dos especialistas já deixou a
academia há bastante tempo e já foi incorporada pelo discurso escolar; basta observar
que vários Projetos Políticos Pedagógicos de escolas particulares e públicas
enunciam esse objetivo geral da educação sem que necessariamente suas ações
pedagógicas tenham sido significativamente modificadas.
São em momentos como esse que compreendo a impotência
que alguns professores que assumem o compromisso para si de implementar práticas
educacionais que visam à constituição de valores e à aprendizagem significativa
pelos alunos sentem quando se deparam com um sistema que está imerso em um
discurso inovador mas cujas práticas são arcaicas e tradicionais. E daí vem a
tradicional questão que ouço em minhas aulas de licenciandos que já estão em
sala de aula: “mas, como fazer diferente? Como romper com o sistema?”.
Eu sei que sozinha não mudarei a educação infantil. Sendo
otimista e pensando que a maioria dos professores universitários pense como eu
e esteja trabalhando nesse sentido, ainda assim não temos garantia de que haverá
uma melhoria no ensino de ciências para as crianças. Por quê? Porque isso não depende
apenas do professor que está em sala de aula. E, dialeticamente, a mudança e a melhoria
do ensino passam diretamente pelas ações deste professor.
Acho que passou da hora de tratarmos de forma
profissional a educação das séries iniciais. E não será apenas em um debate
interno, constituído apenas por pedagogos e especialistas em educação infantil,
que conseguiremos avanços efetivos. Temos que ouvir os professores incluí-los
nas discussões para conseguirmos discutir se aquele slogan da/para educação faz, de fato, sentido na prática.
Só para finalizar. Esta semana li uma entrevista com
a Profa. Magda Becker Soares na qual ela fala sobre as funções da Educação
Infantil sobretudo do aspecto do desenvolvimento cognitivo e social da criança.
Vale à pena conferir (em http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/0/aprendizagem-ludica-240352-1.asp).
Ótima análise. Todavia para uma mudança profunda no jeito de fazer Educação é necessário uma profunda análise do papel da escola. Para que ela serve , como ela age e acho que obras como "A sociedade sem Escolas " De Ivan Ilich, "A reprodução" e o "Poder Simbólico." Bourdieu e Passeron e Bourdieu. Junto do conceito de "Aparelho Ideológico do Estado" De Althusser nos ajudaram a entender um pouco do quanto o sistema, e o capital cultural divide as classes e o deixa imóvel diante até da inovação. O conceito de "Intelectual Orgânico" De Gramsci é também fundamental para que possamos buscar um caminho e repensar nossas práticas, saindo da técnica e problematizando as questões.
ResponderExcluirOi André. Concordo com você e acho que uma análise sociológica da escola e do sistema no qual ela está imerso é fundamental para compreendermos determinadas relações de poder que se estabelecem neste cenário tão particular e, ao mesmo tempo, tão identificado com a sociedade de uma forma geral. Pensar mudanças na escola passa necessariamente por uma reflexão sobre que tipo de sociedade temos e queremos construir daqui para frente. Abraço.
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