Está
posto. Os pilares da universidade são o Ensino, a Pesquisa e a Extensão. Quando
entramos na universidade pública como alunos nos deparamos com um ensino quase
sempre de qualidade mas que deixa a desejar em vários aspectos. No entanto,
geralmente nos orgulhamos por sermos alunos de pesquisadores de ponta na sua
área. E quando a gente “crescer” quer ser que nem eles. Quer ter um
laboratório, ver seu sobrenome estampado em revistas internacionais e viajar o
Brasil e o mundo participando de congressos e dando palestras para gente tão ou
melhor do que você. Raramente, na graduação, nos envolvemos com a Extensão. É,
aquele outro pilar da universidade que sempre fica ali, no cantinho, que quase
sempre somente é valorizado quando o professor/pesquisador universitário
precisa preencher um campo no formulário de progressão de carreira para somar
pontos.
Não.
Não estou sendo severa com meus colegas. Critico uma parte deles sim na medida
em que apenas se recordam da Extensão nesses momentos. Mas se pararmos para
pensar e analisar bem o porquê disso vemos que o problema é muito mais
“embaixo” ou “em cima”, dependendo do ponto de vista.
O
professor universitário lida com demandas internas e externas à universidade.
Ele tem que dar aulas na graduação e na pós-graduação pois existe uma carga
horária mínima que ele deve atender. Mas ele também tem que fazer pesquisa.
Sabe por quê? Não, não é apenas para ser reconhecido por seus pares ou fazer
uma descoberta científica que mudará o mundo. Porque os recursos que subsidiam
a compra de materiais permanentes e de consumo das universidades públicas vêm,
principalmente, das verbas obtidas nesses projetos de pesquisa. Então, a vida
do professor/pesquisador universitário brasileiro é escrever, submeter e
executar projetos de pesquisa para conseguir dinheiro para manter, em mínimas
condições, seu trabalho. Mas esse dinheiro não deveria vir diretamente dos
Governos Federal e Estadual? Sim, ele vem. Mas ele não é suficiente. É por isso
que temos observado cada vez mais (e com grande força) a entrada de verbas
privadas, na forma de convênios com empresas multinacionais, em alguns setores
da universidade pública. Que setores? Aqueles que atenderão a formação de
demanda de mão de obra qualificada para atuar nessas empresas. Mas e as
humanidades? Tem havido subsídio para a formação de professores, filósofos,
sociólogos, psicólogos e historiadores? Raramente, quase nunca. Os
professores/pesquisadores que atuam nas áreas humanas são aqueles que mais
precisam das verbas oriundas dos projetos de pesquisa sustentados por agências
de fomento públicas. E, coincidência ou não, me parecem ser aqueles que mais se
envolvem com aquele pilar esquecido (a Extensão).
E
por que isso? Assim, que entrei na minha atual universidade pensei em colocar
em prática um antigo projeto meu de trazer alunos da escola básica para a
universidade. Escrevi um projeto de extensão, convidei professores e
pesquisadores de várias instituições de ensino e de pesquisa do RJ e todos
aceitaram. Logo em seguida percebi que não receberia um centavo para a execução
do projeto. Teria somente direito a bolsas de extensão para alunos da graduação.
Se não recebemos verba para realizar atividades de extensão: 1) por que
perdermos tempo com ela já que temos tantas aulas para dar e pesquisas a
executar? e 2) por que valorizar a extensão se dela não se originam artigos de
pesquisa que iremos publicar, engordar nosso Lattes e conseguirmos bolsa de
produtividade? Não, não há reconhecimento pelo engajamento em atividades
extensionistas na universidade. A comunidade acadêmica olha essas ações muitas
das vezes como sendo assistencialistas. E há quem encare a extensão como forma
de “doutrinamento” e “iluminação” da população que está além dos muros da
universidade.
E
o que isso tem a ver com a escola ou com o ensino de ciências na educação
básica? Respondo com outra pergunta: como fazer chegar à escola, aos
professores e, lá na ponta, aos alunos os resultados inovadores (considerando
que eles assim sejam) de nossas pesquisas que visam à melhoria do ensino? Não
precisa ser um grande intelectual para perceber que a relação entre pesquisa,
ensino e extensão é (deveria ser) um processo de retro-alimentação da
universidade pública que está inserida na sociedade e que, ao mesmo tempo,
determina algumas de suas relações.
Essa
discussão passa ao largo do dia a dia do professor universitário. São tantas
tarefas a cumprir que ele entra em uma ciranda automática de execução de atividades
que o torna mais uma peça no sistema. (Qualquer semelhança com o cotidiano do
professor escolar não é mera coincidência.) Resta perguntarmos a nós mesmos a
quem isso interessa e se queremos continuar nesta rotina cruel e pouco
produtiva do ponto de vista humano.
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