A primeira das questões acima me
acompanha desde sempre. A última vez em que ela surgiu foi de uma maneira
bastante inusitada. Minha filha, então com 8 anos, às 7 horas da manhã enquanto se
vestia para ir à escola me sai com essa: “Mãe, por que as crianças têm que ir
para a escola?”. Como eu ainda estava meio sonolenta e tendo sido pega de
surpresa com essa pergunta que é praticamente filosófica eu respondi: “dá pra
gente conversar sobre isso depois?”. Ela foi para a aula e eu fiquei o restante
da manhã pensando naquilo. Como responder essa pergunta de modo que uma criança
entendesse e fosse convencida? E o pior não era isso. Era eu me dar conta que
talvez eu mesma não tivesse uma resposta razoável para dar.
Na
saída da escola eu retomei o assunto e disse alguma coisa do tipo: é importante
que as crianças aprendam tudo o que as gerações passadas (nossos avós, bisavós
e outras pessoas há muitos anos atrás) aprenderam sobre o mundo, sobre a
natureza porque senão esse conhecimento irá se perder. Para ser sincera, eu não
fiquei convencida com a resposta que dei e ela fez uma expressão de que “não
era isso o que eu estava querendo saber”.
O papo ficou por aí mas a
minha inquietação enquanto educadora persistiu. Deve ter alguma coisa errada na
escola para que as crianças se façam esse tipo de pergunta (ou não...). Enfim,
eu conclui que talvez seja importante conversar com as crianças sobre a
importância de frequentar a escola (mas há mesmo uma importância?). Porque,
caso contrário, parece uma obrigação não justificada ter que ir à escola e,
convenhamos, criança não gosta de fazer nada por obrigação. Acho legítimo um
aluno me questionar o motivo dele ter que aprender na escola e não em casa, no
computador. Será que esse é um dos motivos pelos quais eles não reconhecem a
relevância e a finalidade do papel do professor? Será que esse não pode ser
mais um fator que repercute no pouco respeito e desvalorização da profissão
docente? Pode parecer meio óbvio para nós, professores, e para uma parcela da
população adulta que nossa profissão é essencial para o desenvolvimento e
melhoria da sociedade. Mas não é. E também é nossa função, ao contribuir para a
formação de valores e do caráter do aluno, discutir com ele a importância da
escola na vida dele. Eu não estou sugerindo inserir uma disciplina de filosofia
nas séries iniciais. No entanto, eu realmente acredito que formar “cidadãos
críticos capazes de exercitar plenamente sua cidadania nos diferentes contextos
e situações na sociedade” (não é este o discurso dos documentos curriculares
oficiais?) passa, obrigatoriamente, por discussões como essa. Afinal, como
exercitar a criticidade dos alunos se não deixamos que eles tenham voz no
espaço que é pensado atualmente como sendo o espaço formal responsável pela sua
formação integral e plena?
E sobre o ensino de ciências, especificamente? Comento no próximo post...
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