Sei que o assunto é polêmico e logo adianto que não pretendo sair em defesa de qualquer posição, apresentar dados estatísticos ou dizer que este ou aquele autor é a favor ou contra a educação a distância. Darei tão somente um depoimento de alguém que tanto fez um curso de especialização nesta modalidade quanto como uma professora universitária que ministrou aulas em um curso de formação inicial de professores da Universidade Aberta do Brasil (UAB).
Ao finalizar minha graduação não me sentia pronta para uma seleção de mestrado. Optei por seguir no magistério, ganhar experiência em sala de aula e somente depois decidir se e em qual área eu faria meu mestrado. Foi uma ótima decisão porque na escola eu percebi o que me motivaria ao redigir um projeto de pesquisa, escolhendo meu objeto de estudo e a linha de investigação a ser seguida. Mas uma parte deste êxito deveu-se ao fato de eu ter cursado nesse ínterim uma especialização (lato sensu) em Docência do Ensino Superior, coordenada por uma equipe de professores da UFRJ. O curso era organizado em módulos e eu recebia o material (impresso) via correios e tinha orientações sobre o tempo a dedicar ao estudo de cada conteúdo e uma carga horária diária de estudo era sugerida pelos coordenadores. Eu seguia à risca as instruções. Ao final de cada módulo havia uma avaliação. Em alguns eram trabalhos escritos que deveriam ser postados pelos correios e em outros eram provas escritas que eu fazia em um "polo". Ao final da especialização eu deveria submeter (não havia defesa oral) uma monografia sobre um dos temas abordados em quaisquer dos módulos do curso. Lembro-me que tive uma dificuldade considerável para elaborar a monografia, sobretudo no que diz respeito à revisão bibliográfica e a construção de um texto científico coerente cuja apropriação teórica de fato existisse e não ficasse apenas no nível da repetição (os famosos "apud"). Devo admitir que esta foi a etapa em que mais senti falta do "presencial", da "sala de aula", de poder tirar dúvidas "ao vivo" com o professor no momento em que elas surgiam. Eu raramente utilizava o sistema de tutoria. Talvez se fosse hoje - com o uso das plataformas via Internet - eu tivesse interagido mais com os tutores. Minha moral da história aqui é que a especialização a distância foi uma experiência que somou à minha formação acadêmica e que eu a encarei com muita seriedade pois exercitei minha autonomia e disciplina.
Agora o outro lado da moeda.
Minha primeira atuação como professora efetiva em uma universidade foi exatamente em um curso de educação a distância. A vaga para a qual fui destinada era da UAB para ministrar disciplinas pedagógicas no curso de licenciatura em Física da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). Antes de contar um pouco dessa experiência permitam-me dar uma contextualizada. Primeiro, eu tinha um pé atrás com relação a essa coisa toda de formar professores (e de ciências!) a distância. As questões eram várias mas as principais eram: e as discussões/interações interpessoais que apenas são possíveis quando os sujeitos estão fisicamente presentes em um mesmo espaço? E o olho no olho? Segundo, quando eu comecei a me preparar para o concurso (e eu estudei e li bastante a respeito do assunto, afinal, a vaga era na área de Educação e não Ensino de Ciências) eu me deparei com argumentos favoráveis e contrários à formação de professores (de ciências) a distância que eram bastante razoáveis. E aí, obviamente, eu me perguntei em algum momento: "você quer fazer parte disso? Quer lidar com pessoas, via computador, sem olhar para elas, e formá-las para serem professoras que estarão em sala de aula um dia? Você acredita nisso?". Fiz o concurso sem ter uma resposta a esta última questão, mas eu decidi que eu queria apostar na experiência.
Nem preciso dizer que enfrentei desafios óbvios: o curso era de licenciatura em Física (minha formação inicial é em Ciências Biológicas), não daria qualquer disciplina relacionada à minha área, não dominava a plataforma TelEduc (na qual eu ministraria as disciplinas) e ficaria responsável por disciplinas pedagógicas (Didática, Psicologia da Educação, Estrutura e Funcionamento) que me demandariam muito estudo para sua preparação e adaptação para o formato a distância.
Logo que entrei na universidade e me envolvi com a licenciatura a distância - no outro semestre passei a atuar também no curso presencial - aquelas questões pareciam ter sumido. Eu já não me questionava se eu queria ou não fazer parte do grupo de professores universitários que apoiam a formação de professores a distância. E hoje, quando eu paro para pensar em um possível motivo, eu arriscaria um: a seriedade com a qual aquela equipe de professores do curso de licenciatura em Física a distância da UNIFEI conduzia todas as atividades pedagógicas/acadêmicas daquele curso era exemplar. Antes que alguém insinue que isso poderia se dever à bolsa da UAB que recebíamos mensalmente por atuarmos neste curso eu adianto: não, não era. Aqueles professores realmente estavam preocupados com um dado concreto: professores de física são uma espécie em extinção! Tudo bem, então vamos melhorar o ensino de física no nível médio, lá na escola, estimular a escolha pelo curso de Física quando a molecada está escolhendo a carreira no vestibular. Concordo plenamente. Mas estamos esquecendo de um dado fundamental: há quem escolha Física e abandone o curso logo no início. Enquanto fui professora lá vi uma turma presencial se formar com a mesma quantidade (ínfima) de alunos da turma a distância. Se não fosse esse curso a distância (que, me desculpem os críticos que não conhecem o trabalho daquela equipe, era sim de qualidade) o número estaria reduzido à metade!
Só mais um ponto. Havia uma frase que não saia da minha cabeça durante todo o período pré-concurso e ainda quando atuava lá como professora: "Por que não há curso de medicina a distância?". Tão logo pensava nesta questão imaginava os estágios supervisionados nas licenciaturas. Como controlar? Como contribuir para que os futuros professores percebessem a prática pedagógica como uma atividade crítica? Como "pensar" em conjunto com os licenciandos suas regências, assisti-las e buscar avaliá-las de modo que esta etapa essencial na formação docente fosse de qualidade. Não fui professora de Estágio Supervisionado no curso a distância mas observava o trabalho de alguns colegas. Ainda considero que aqui jaz o maior desafio das licenciaturas a distância.
Para concluir - não o assunto que está longe de ser unívoco - mas as minhas considerações posso trazer um comentário que sempre escutava nas reuniões daquela equipe: bom aluno, é bom aluno em qualquer modalidade de ensino. Aqui deixo minha ressalva: ser "bom aluno" ainda é um julgamento subjetivo e nada me gratifica mais quando vejo um "aluno regular" se transformar em um "excelente futuro professor".
Obs: o verbo "ver" na frase acima não foi empregado aleatoriamente.
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