Esta semana duas amigas escreveram algo muito parecido em suas páginas em uma rede social: o quanto aqueles que escrevem sobre educação parecem distantes da realidade da escola. Uma professora de inglês, outra professora de ciências. Cada uma em atuação em instituições distintas, públicas e privadas. Minhas amigas alertam para algo que, conforme já venho anunciando em posts anteriores, tem se colocado como uma inquietação e um desafio para a minha prática enquanto pesquisadora universitária.
Porém aqui tentarei "superar" - mesmo que momentaneamente - esta questão pessoal para refletir, de modo menos particular sobre esse tema.
Uma dessas colegas de profissão comentou sobre a impossibilidade de alguém que jamais esteve em uma sala de aula da educação básica tecer considerações apropriadas sobre esta realidade tão peculiar. Fiquei me perguntando se um aluno que sai da universidade, ingressa no mestrado, depois no doutorado, passa em um concurso público e se torna professor/pesquisador universitário de uma licenciatura poderia dimensionar o que é a escola pública brasileira. Acredito que existem algumas respostas cabíveis.
Primeira, ele poderia conhecer a escola pública no papel de aluno. No entanto, como ex-aluno ele nunca vivenciou o cotidiano do professor dessa escola; afinal, ele nunca assumiu este papel lá.
Segunda, ele poderia, durante sua formação inicial, ter estagiado em uma escola pública. Mas, aqui, novamente, ele não seria o professor regente das turmas. Ele poderia ter convivido com uma realidade mais próxima do magistério mas ainda assim não era ele o responsável por "cumprir o planejamento" e responder por todas as responsabilidades de um professor.
Terceira, suas pesquisas de mestrado e/ou doutorado podem ter investigado algum aspecto da escola pública no seu dia a dia. Ele pode ter realizado uma pesquisa empírica na qual seus dados foram coletados na escola. Desta forma, ele poderia ter tido contato - já com um olhar "mais acadêmico" - com esse universo escolar.
Quarta (mas que pode não necessariamente ser a última resposta cabível), ele poderia, ao se tornar professor/pesquisador universitário em um curso de licenciatura, orientar alunos em seus estágios nas escolas ou ainda desenvolver pesquisas sobre a escola.
Quando eu revejo todas essas possibilidades duas ideias me vêm à mente: não importa em que momento se deu o contato desse professor/pesquisador universitário com a realidade da escola pública, o que importa é: 1) que ele tenha se dado em algum momento, caso contrário ele jamais saberá do que se trata; 2) que ele possua uma concepção filosófica de educação muito bem fundamentada e, mais ainda, auto-consciente.
Eu percebo que existem pesquisadores, autores renomados de livros na área da Educação (e da Educação em Ciências) que estão muito distantes da realidade (dura, triste, sofrida, cruel) enfrentada pelos professores brasileiros. Mas não existiria então, espaço para a pesquisa teórica, de base? Claro que sim! Porém, ela não pode simplesmente ignorar o que se passa nas escolas públicas deste país. Por outro lado, também encontro pesquisadores que nunca foram professores de escolas públicas e que "perdem o sono" e "quebram suas cabeças" em busca de medidas (práticas) para a melhoria do ensino da escola básica.
Acho que não podemos generalizar, dizendo que os pesquisadores universitários estão viajando em suas teorias e esquecendo da realidade escolar. Tem gente buscando saídas sim, mesmo no âmbito de pesquisas que, para quem está de fora, pareça "descontextualizada" ou "irreal". Mas também tenho que concordar com minhas amigas que tem muito acadêmico por aí falando mais bonito do que, de fato, fazendo alguma coisa útil em prol da educação brasileira.
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ResponderExcluirComo professora autora das coisas que você relatou aí em cima ditas por uma professora de ciências, reforço que também acho que não dá para generalizar... pode existir gente competente que consiga dimensionar o que é a rotina de uma escola pública atualmente e sugerir atitudes, ações, medidas para melhorá-la?! Sim.... mas acho que são casos bem raros! (rs) Na minha opinião de professora e também estudante da escola, os melhores pesquisadores são os que não estão na escola hoje em dia(muitos por impossibilidade de acumular matrículas), mas por ela passaram durante sua carreira docente! A relação de comprometimento e intimidade é nitidamente maior....exceções podem existir, mas até hoje vi raríssimas...
ResponderExcluirOi Daniela,
ResponderExcluirobrigada pelo seu comentário. Você levantou um ponto interessante que é normalmente a impossibilidade de atuação na universidade (na qual normalmente somos de regime de dedicação exclusiva) e na escola. Sua opinião, de quem está vendo tudo de "dentro" é muito válida.
Abraço!