Este Blog trata de assuntos relacionados à Educação e, mais especificamente, ao Ensino de Ciências. Perante todos esses acontecimentos que têm ocorrido em nosso país é impossível não se manifestar ou se perguntar se tudo aquilo em que sempre acreditei pode estar, de fato, se concretizando.
A Educação para mim sempre foi uma das vias centrais para a mudança. Tanto a interna, via conscientização do sujeito, quanto a coletiva. Apesar de ao olhar para as escolas não conseguir visualizar um ensino que vise a politização e a criticidade dos alunos estamos vendo que os (ex) alunos estão nas ruas completamente cientes de que nossa sociedade é injusta, desigual e desumana.
Eles não querem mais esse tipo/modelo de sociedade cujos políticos roubam, desviam verbas públicas, punem e absolvem a si próprios. Eles não querem mais uma sociedade na qual os que mais trabalham, levam horas dentro de ônibus e trens lotados para ir e voltar no percurso casa-trabalho, são os piores remunerados, vivem endividados, não têm creche para deixar seus filhos para irem trabalhar e são sempre encarados como os "coitados" e "imbecis" quem sempre elegem os mesmos. E quando digo os mesmos me refiro a toda a classe política que, com raríssimas exceções, não defende o interesse da população.
Não sou profunda conhecedora de História da Educação, gostaria muito de saber mais e sempre me esforço para relacionar a história do nosso país com nossos movimentos educacionais, mas consigo perceber que essas manifestações ocorridas até aqui constituem-se em movimentos populares de força. Mesmo que eles não tenham tido uma organização ou pauta inicial completamente clara o que importa é que a população fez a sua voz ganhar força. Vejo aqui profundas relações com os movimentos populares pós-ditadura, a Educação e o papel do profissional da educação (não apenas o professor) com o compromisso por um país justo e com condições de vida iguais para todos.
Somos nós, atores da Educação, que formamos intelectualmente, moralmente e os valores de toda a nação. Temos que lutar dia a dia, individualmente, em nosso campo de atuação sim. Mas temos que estar sempre organizados em prol da melhoria de nossas condições de trabalho e pela valorização (não só econômica) da classe. Fomos destroçados durante a Ditadura Militar e agora, via Democracia, temos que recuperar o respeito pelo magistério.
O discurso belo e pomposo do Ensino de Ciências que visa a formação de cidadãos críticos parece estar saindo do papel, pode ser que meio sem jeito, meio no tato. O enfoque CTS (Ciência-Tecnologia-Sociedade) e as metodologias que se apoiam em educadores progressistas como Freire não andavam à toa, por aí.
Estamos vivos, mais do que nunca, fazendo a diferença.
Ensinando Ciências na Escola é um blog que traz reflexões sobre a educação científica buscando abordar temas atuais com os quais professores de ciências estão envolvidos em seu cotidiano escolar.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
segunda-feira, 17 de junho de 2013
A boniteza do dia 17 de junho de 2013
Se há algumas semanas atrás eu senti no discurso de professoras a desilusão e o descontentamento com o magistério - algo que me levou a uma profunda reflexão sobre o meu atuar docente - hoje, dia 17 de junho de 2013, eu tive motivos de sobra para acreditar que há a possibilidade de mudança.
Uma mudança social, em prol da educação transformadora, conscientizadora e crítica.
Já escrevi aqui antes sobre a dispersão e a fragmentação do trabalho do professor que, muitas vezes, dá a falsa impressão que a grande maioria da classe está indo "conforme a onda leva" e que não há resistência, tampouco ações concretas.
As manifestações que vimos hoje pelo país servem para que eu (e tenho certeza que muitos educadores) tenha mais um motivo para lutar por aquilo em que acredito: uma escola pública de qualidade, com professores tendo sua profissão reconhecida social, cultural e economicamente, e com estudantes sendo formados não para o "mundo do trabalho", mas para o "mundo das gentes".
Infelizmente, não pude ser mais uma na multidão de 100.000 pessoas que tomaram as ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro, porém estou a cada dia imbuída nesta manifestação cotidiana da promoção do exercício da cidadania. Espero estar presente na próxima.
Acredito que a mudança já começou há tempos e ela se concretiza(rá) a cada dia. Dentro de nós mesmos. E em nossa relação com o outro.
Paulo Freire estaria tremendamente sensibilizado com a boniteza que o povo brasileiro expôs ao mundo.
Uma mudança social, em prol da educação transformadora, conscientizadora e crítica.
Já escrevi aqui antes sobre a dispersão e a fragmentação do trabalho do professor que, muitas vezes, dá a falsa impressão que a grande maioria da classe está indo "conforme a onda leva" e que não há resistência, tampouco ações concretas.
As manifestações que vimos hoje pelo país servem para que eu (e tenho certeza que muitos educadores) tenha mais um motivo para lutar por aquilo em que acredito: uma escola pública de qualidade, com professores tendo sua profissão reconhecida social, cultural e economicamente, e com estudantes sendo formados não para o "mundo do trabalho", mas para o "mundo das gentes".
Infelizmente, não pude ser mais uma na multidão de 100.000 pessoas que tomaram as ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro, porém estou a cada dia imbuída nesta manifestação cotidiana da promoção do exercício da cidadania. Espero estar presente na próxima.
Acredito que a mudança já começou há tempos e ela se concretiza(rá) a cada dia. Dentro de nós mesmos. E em nossa relação com o outro.
Paulo Freire estaria tremendamente sensibilizado com a boniteza que o povo brasileiro expôs ao mundo.
quinta-feira, 6 de junho de 2013
Os "autorizados" a falar sobre Educação têm falado algo útil?
Esta semana duas amigas escreveram algo muito parecido em suas páginas em uma rede social: o quanto aqueles que escrevem sobre educação parecem distantes da realidade da escola. Uma professora de inglês, outra professora de ciências. Cada uma em atuação em instituições distintas, públicas e privadas. Minhas amigas alertam para algo que, conforme já venho anunciando em posts anteriores, tem se colocado como uma inquietação e um desafio para a minha prática enquanto pesquisadora universitária.
Porém aqui tentarei "superar" - mesmo que momentaneamente - esta questão pessoal para refletir, de modo menos particular sobre esse tema.
Uma dessas colegas de profissão comentou sobre a impossibilidade de alguém que jamais esteve em uma sala de aula da educação básica tecer considerações apropriadas sobre esta realidade tão peculiar. Fiquei me perguntando se um aluno que sai da universidade, ingressa no mestrado, depois no doutorado, passa em um concurso público e se torna professor/pesquisador universitário de uma licenciatura poderia dimensionar o que é a escola pública brasileira. Acredito que existem algumas respostas cabíveis.
Primeira, ele poderia conhecer a escola pública no papel de aluno. No entanto, como ex-aluno ele nunca vivenciou o cotidiano do professor dessa escola; afinal, ele nunca assumiu este papel lá.
Segunda, ele poderia, durante sua formação inicial, ter estagiado em uma escola pública. Mas, aqui, novamente, ele não seria o professor regente das turmas. Ele poderia ter convivido com uma realidade mais próxima do magistério mas ainda assim não era ele o responsável por "cumprir o planejamento" e responder por todas as responsabilidades de um professor.
Terceira, suas pesquisas de mestrado e/ou doutorado podem ter investigado algum aspecto da escola pública no seu dia a dia. Ele pode ter realizado uma pesquisa empírica na qual seus dados foram coletados na escola. Desta forma, ele poderia ter tido contato - já com um olhar "mais acadêmico" - com esse universo escolar.
Quarta (mas que pode não necessariamente ser a última resposta cabível), ele poderia, ao se tornar professor/pesquisador universitário em um curso de licenciatura, orientar alunos em seus estágios nas escolas ou ainda desenvolver pesquisas sobre a escola.
Quando eu revejo todas essas possibilidades duas ideias me vêm à mente: não importa em que momento se deu o contato desse professor/pesquisador universitário com a realidade da escola pública, o que importa é: 1) que ele tenha se dado em algum momento, caso contrário ele jamais saberá do que se trata; 2) que ele possua uma concepção filosófica de educação muito bem fundamentada e, mais ainda, auto-consciente.
Eu percebo que existem pesquisadores, autores renomados de livros na área da Educação (e da Educação em Ciências) que estão muito distantes da realidade (dura, triste, sofrida, cruel) enfrentada pelos professores brasileiros. Mas não existiria então, espaço para a pesquisa teórica, de base? Claro que sim! Porém, ela não pode simplesmente ignorar o que se passa nas escolas públicas deste país. Por outro lado, também encontro pesquisadores que nunca foram professores de escolas públicas e que "perdem o sono" e "quebram suas cabeças" em busca de medidas (práticas) para a melhoria do ensino da escola básica.
Acho que não podemos generalizar, dizendo que os pesquisadores universitários estão viajando em suas teorias e esquecendo da realidade escolar. Tem gente buscando saídas sim, mesmo no âmbito de pesquisas que, para quem está de fora, pareça "descontextualizada" ou "irreal". Mas também tenho que concordar com minhas amigas que tem muito acadêmico por aí falando mais bonito do que, de fato, fazendo alguma coisa útil em prol da educação brasileira.
Porém aqui tentarei "superar" - mesmo que momentaneamente - esta questão pessoal para refletir, de modo menos particular sobre esse tema.
Uma dessas colegas de profissão comentou sobre a impossibilidade de alguém que jamais esteve em uma sala de aula da educação básica tecer considerações apropriadas sobre esta realidade tão peculiar. Fiquei me perguntando se um aluno que sai da universidade, ingressa no mestrado, depois no doutorado, passa em um concurso público e se torna professor/pesquisador universitário de uma licenciatura poderia dimensionar o que é a escola pública brasileira. Acredito que existem algumas respostas cabíveis.
Primeira, ele poderia conhecer a escola pública no papel de aluno. No entanto, como ex-aluno ele nunca vivenciou o cotidiano do professor dessa escola; afinal, ele nunca assumiu este papel lá.
Segunda, ele poderia, durante sua formação inicial, ter estagiado em uma escola pública. Mas, aqui, novamente, ele não seria o professor regente das turmas. Ele poderia ter convivido com uma realidade mais próxima do magistério mas ainda assim não era ele o responsável por "cumprir o planejamento" e responder por todas as responsabilidades de um professor.
Terceira, suas pesquisas de mestrado e/ou doutorado podem ter investigado algum aspecto da escola pública no seu dia a dia. Ele pode ter realizado uma pesquisa empírica na qual seus dados foram coletados na escola. Desta forma, ele poderia ter tido contato - já com um olhar "mais acadêmico" - com esse universo escolar.
Quarta (mas que pode não necessariamente ser a última resposta cabível), ele poderia, ao se tornar professor/pesquisador universitário em um curso de licenciatura, orientar alunos em seus estágios nas escolas ou ainda desenvolver pesquisas sobre a escola.
Quando eu revejo todas essas possibilidades duas ideias me vêm à mente: não importa em que momento se deu o contato desse professor/pesquisador universitário com a realidade da escola pública, o que importa é: 1) que ele tenha se dado em algum momento, caso contrário ele jamais saberá do que se trata; 2) que ele possua uma concepção filosófica de educação muito bem fundamentada e, mais ainda, auto-consciente.
Eu percebo que existem pesquisadores, autores renomados de livros na área da Educação (e da Educação em Ciências) que estão muito distantes da realidade (dura, triste, sofrida, cruel) enfrentada pelos professores brasileiros. Mas não existiria então, espaço para a pesquisa teórica, de base? Claro que sim! Porém, ela não pode simplesmente ignorar o que se passa nas escolas públicas deste país. Por outro lado, também encontro pesquisadores que nunca foram professores de escolas públicas e que "perdem o sono" e "quebram suas cabeças" em busca de medidas (práticas) para a melhoria do ensino da escola básica.
Acho que não podemos generalizar, dizendo que os pesquisadores universitários estão viajando em suas teorias e esquecendo da realidade escolar. Tem gente buscando saídas sim, mesmo no âmbito de pesquisas que, para quem está de fora, pareça "descontextualizada" ou "irreal". Mas também tenho que concordar com minhas amigas que tem muito acadêmico por aí falando mais bonito do que, de fato, fazendo alguma coisa útil em prol da educação brasileira.
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