segunda-feira, 13 de maio de 2013

O "deboche" nas redações do ENEM


Hoje ouvia na rádio o jornalista Ricardo Boechat comentar um dos novos "critérios" a ser levado em consideração na correção das redações do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), a saber: o candidato que usar o "deboche" como estilo de escrita será punido. Assim como o jornalista eu fiquei perplexa, afinal, o que se espera de um aluno recém-egresso da educação básica? Não é o mínimo de senso crítico sobre as mais variadas questões presentes em nossa sociedade? E uma das formas de se expressar uma crítica não é o deboche? O que temem os responsáveis pelas provas do ENEM e, em última instância, o próprio Governo já que é ele quem organiza o exame? Terem suas políticas públicas questionadas?!
Tanto falamos em nossas aulas em cursos de formação de professores sobre a necessidade fundamental de sermos docentes que exploram as relações entre Ciência e Sociedade, de não desvincularmos o ensino dos conteúdos científicos das questões educacionais mais amplas as quais, por serem sociais por natureza, ajudam a manter ou a romper com a estrutura em que vivemos. São tantos os professores que estão empenhados em suas aulas a não apenas preparar seus alunos para conseguirem uma vaga nas universidades mas para se tornarem "mentes pensantes", pessoas que buscarão a igualdade social, cultural, econômica para todos e o próprio Ministério da Educação quer "regular" formas de expressão que questionam a sociedade, mesmo que seja via deboche?
Aliás, o que é isso que eles estão denominando "deboche"?
Eu, enquanto professora, pesquisadora e formadora de professores que se preocupa com questões relacionadas à leitura e à escrita mesmo em aulas de ciências fico chocada ao tomar conhecimento de que esse tipo de intolerância está sendo propagada em um exame nacional de educação. Nossos alunos saem do ensino médio escrevendo mal? Muitos saem mesmo! E este não deveria ser o foco do Ministério da Educação? Não entendam que eu estou defendendo menor rigorosidade na correção das redações pois não há como esperar que, após ter entrado na universidade, o candidato - agora aluno universitário - seja alfabetizado e aprenda a interpretar e produzir textos. É a velha questão do "vai empurrando o aluno para a série seguinte, aprovando e deixa ele se queimar lá na frente".
Fico com a sensação de que novamente o "eixo central" da educação está sendo deslocado e que está se fazendo cada vez mais necessário nos perguntarmos sobre o que queremos da Educação nesse país. Onde está o nosso Plano Nacional de Educação até hoje?
O incômodo do deboche é que somente quem percebe uma situação passível de crítica/contradição é capaz de se mostrar alfabetizado politicamente. Provavelmente, nossos governantes não desejam isso. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário