segunda-feira, 8 de abril de 2013

Voz do Professor - Kristian Wessman

Inicio este depoimento lembrando do meu discurso de quando entrei na faculdade de Biologia, em que dizia que somente me tornaria professor se tudo desse errado. Era o meu plano B. E foi com este espírito que trilhei a minha graduação, buscando desde o princípio laboratórios de pesquisa onde pudesse dar início ao meu objetivo de seguir a carreira de pesquisador. O curioso desta escolha é que ela foi baseada principalmente nas imagens que cada uma das carreiras passam para a sociedade. O pesquisador sempre é uma pessoa bem sucedida e respeitada, já o professor... Bem, o professor é aquele coitado que ganha um salário de fome e constantemente é desrespeitado por governos, pais de alunos e alunos, não necessariamente nesta ordem. Foram com estas impressões que entrei na faculdade e são estas impressões que continuo vendo atualmente em sala de aula quando consulto os alunos sobre que carreira pretendem seguir.
Pois bem, então por que me tornei professor? Simplesmente porque estas duas imagens com as quais entrei na faculdade foram modificadas ao longo do tempo. Vi que a pesquisa não é, principalmente no Brasil, tão valorizada quanto parece. Existe a carência de bens materiais e material humano para que realmente ela se desenvolva. E ao mesmo tempo, pude presenciar ao longo na minha prática de ensino que aqueles “monstros”, também chamados de alunos, não eram tão perigosos assim. Foi na prática de ensino que percebi como ser professor pode modificar de forma muito mais imediata a sociedade. Ou seja, encontrei na sala de aula o que já não encontrava no laboratório: uma função clara e imediata para tudo o que havia aprendido na faculdade.
Assim que conclui a graduação, já me vi atuando como professor nas redes pública estadual e privada. E vi que, principalmente na rede pública, existe uma tendência a esperar que as mudanças aconteçam. Porém eu acredito que nós devemos ser parte da mudança. Neste momento ouvi muito aquele discurso de que eu queria mudar a escola porque ainda estava cheio de gás, recém-formado, que o tempo me mostraria que de nada adianta nossa vontade. Ou seja, dificilmente encontrava palavras animadoras vindas de colegas, principalmente daqueles que já tinham mais tempo de profissão.
Entretanto sou inquieto por natureza. Não gosto de perder tempo esperando as coisas acontecerem. E felizmente fui lotado em uma escola onde os diretores dão liberdade para que projetos sejam propostos e executados. E o meu projeto pessoal foi transformar uma sala ociosa em laboratório de Ciências. O início de 2009 foi marcado pelo improviso, com mesas de refeitório sendo usadas como bancadas. Este simples fato fez com que os alunos se aproximassem e se interessassem mais pelas aulas. A impressão que tenho é que perceberam o meu interesse em modificar algo e resolveram retribuir com o interesse deles.
O ano de 2010 foi marcado por duas gratas surpresas. A primeira foi a liberação de uma verba por parte do governo federal para a execução de um projeto proposto pela escola. A verba foi transformada em pequenos insumos para realização de aulas práticas e bancadas de laboratório, e assim as mesas improvisadas retornaram para o refeitório. A segunda foi a aprovação de um projeto de extensão universitária para ser executado em 2011. Através deste projeto, inúmeros materiais foram comprados para equipar o laboratório e posso dizer que hoje tenho à disposição uma estrutura que dificilmente é encontrada em escolas da rede estadual para o ensino de Ciências. O laboratório conta com frigobar, placa aquecedora, modelos anatômicos, computador, microscópio e lupa com câmera para exibição no data-show, vidrarias, entre outros materiais. Este projeto trouxe ainda o programa PIBIC-EM para a escola, e ao longo de 2012 tivemos um aluno bolsista do CNPq realizando um projeto sob minha orientação e do grupo parceiro em extensão universitária.
Creio que não preciso descrever o quanto estes projetos modificaram para melhor o interesse dos alunos pelas aulas de Biologia. Hoje sou cobrado quando passo muito tempo sem dar aulas neste espaço, e até mesmo pais de alunos já cobraram que os professores da escola utilizassem este espaço mais vezes. É gratificante perceber que os frutos deste projeto já são colhidos. E sempre que vejo estes frutos, me pergunto onde estariam se eu tivesse dado ouvidos aos que me disseram que de nada adiantaria a minha vontade em mudar a realidade. Não quero com isto dizer que problemas não existem (e são muitos), mas sim que não devemos nos entregar a eles.
Kristian Wessman - Professor de Ciências e Biologia das redes públicas estadual e municipal do RJ e da rede particular. Aqui descreve sua atuação no CIEP 369 Jornalista Sandro Moreyra em Duque de Caxias, RJ.

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