quarta-feira, 10 de abril de 2013

Ensinar requer afetividade e amorosidade pelo aluno


             O título deste post é de minha autoria porém os créditos são todos de Paulo Freire. Essa afirmação veio-me à mente em uma situação emblemática de minha atuação como professora do ensino fundamental. Algo que eu acredito que 99,9% dos professores já enfrentaram.
               Não me lembro ao certo em que bimestre estávamos. Era uma turma de 6ª série (7º ano atual), mais especificamente, a turma 62 que tinha alunos de variadas personalidades. Gostava de dar aulas naquela turma mas o ambiente estava ficando cada vez mais tumultuado por causa de alguns alunos agitados. Um deles era o Filipe. Ele era um menino que gostava de chamar atenção dos colegas, fazia piada de qualquer coisa que eu ou algum outro aluno dissesse e estava, além dos problemas de comportamento, com notas baixas em várias disciplinas.
            O Filipe estava começando a fazer com que eu atingisse o meu limite de paciência. Sentia que ele estava me desafiando, testando. Porém, eu decidi que não iria confrontá-lo perante a turma. Senti que era isso o que ele queria. Então, minha primeira providência (frustrada, diga-se de passagem) foi chamá-lo para uma conversa fora da sala. Disse a ele alguma coisa do tipo: “Filipe, eu sei o que você está tentando fazer comigo, com os outros professores. Isso não é legal para você, nem para mim ou seus colegas. Acho melhor você começar a se comportar porque quem mais perde com isso é você”. O discurso cheio de moral  não serviu para nada e ele continuou fazendo as brincadeiras como de costume.
            Quando eu já não suportava mais a situação, pois ele e alguns outros alunos estavam impedindo que eu desse aula, me veio esse pensamento: “Paulo Freire disse que é preciso ter amor e respeito ao educando”. Não que eu não gostasse do menino, muito pelo contrário, acontece que nessas ocasiões você perde seu centro. Fiquei repetindo essa frase como um mantra até que me veio a ideia: faria do Filipe meu aliado, assumiria para mim mesma o desafio de torná-lo o aluno mais participativo e que se sentisse amado e respeitado por mim. Certamente que a ocasião propícia para colocar isso em prática não demorou para acontecer. Em algum momento da aula ele fez uma piada. Ao invés de chamar sua atenção ou agir de forma punitiva cheguei perto dele e fiz algum comentário bem baixinho e engraçado sobre o que ele tinha acabado de dizer em alto e bom som a todos da turma. Ele riu e o resto do pessoal ficou curioso para saber o que eu tinha falado. Pronto! A partir desse dia, as coisas entre nós melhoraram consideravelmente. Não que ele nunca mais tenha agido daquela maneira típica de adolescente só que ele não atrapalhava mais minhas aulas porque quando eu pedia para parar ou para ele dar uma segurada ele se controlava.
            Eu e Filipe temos contato até hoje (um viva para as redes sociais!) e pedi autorização a ele para usar seu verdadeiro nome neste texto. Acho essa coisa de pseudônimo muito chata nos textos acadêmicos. E ele acaba de me lembrar que em uma festa surpresa de aniversário que ele e os colegas organizaram para mim eu dei o primeiro pedaço de bolo para ele. Não foi uma “tática” ou “estratégia” para mantê-lo na linha não. Foi um gesto de coração porque ele se tornou um dos meus queridos alunos com os quais eu aprendo tanto sobre ser professora e como me tornar uma pessoa melhor. Um abraço apertado, querido Filipe Francisco!

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