Parece que entre a comunidade de pesquisadores em Educação em Ciências isto é consenso: pesquisas sobre as concepções alternativas (ou espontâneas, como queiram) de alunos e professores já estão esgotadas. Não fiz uma revisão bibliográfica sobre o assunto mas acabo por me juntar a esse coro uma vez que sempre que procuro na literatura alguma pesquisa sobre concepções alternativas de qualquer conceito científico eu sempre encontro, pelo menos, um ou dois artigos relacionados. E talvez por essa vertente de pesquisa estar aparentemente saturada, hoje já não damos a relativa importância que seus resultados e reflexões didáticas deles decorrentes podem nos auxiliar em nossa atuação no magistério, tanto superior quanto básico.
Neste semestre estou ministrando uma disciplina para o curso de Pedagogia, a "Ciências da Natureza: conteúdo e método". No currículo da FFP/UERJ, os futuros pedagogos têm três disciplinas desta. Na primeira são abordados conteúdos de geociências, entre outros. Então, antes de iniciar o estudo do "conteúdo" propriamente dito decidi "sondar" as concepções alternativas dos licenciandos sobre conceitos de astronomia. O mais interessante da atividade não foram os resultados obtidos. Não me surpreendi com as respostas das alunas às questões feitas pois já havia lido artigos nos quais os pesquisadores apresentam algumas concepções apresentadas por professores de séries iniciais e estudantes sobre conceitos da Astronomia (entre eles o artigo de Pinto e cols, 2007). No entanto, devo confessar que é sempre uma surpresa pouco agradável constatar estes resultados na prática. Todo e qualquer professor adoraria se deparar com uma turma que já apresenta interpretações para fenômenos naturais que, se não são ainda completamente corretas do ponto de vista da ciência estão, pelo menos, um pouco próximo dela. Minhas alunas fizeram a atividade com total seriedade e comprometimento (é claro que algumas brincadeiras quando as perguntas estavam sendo feitas surgiram, mas no momento em que discutíamos suas respostas elas estavam atentas e curiosas) e se surpreenderam com suas próprias explicações. Algo que pode parecer óbvio em uma situação corriqueira quando posto sob discussão e questionamento pode revelar (e a ideia de trazer à tona as concepções alternativas do sujeito é exatamente esta) conflitos cognitivos basais que geram a necessidade de uma explicação que dê conta de sua deficiência conceitual.
Não tenho a intenção aqui de descrever os mecanismos cognitivos implícitos nas atividades de desvelamento das concepções alternativas e de uma, desejável ou pretendida, mudança conceitual (indico a leitura do artigo de Mortimer, 1996). Meu objetivo quando iniciei a escrita deste post era a de ressaltar a relevância da inserção desse tipo de atividade em disciplinas da licenciatura tanto para conhecermos as concepções dos futuros professores a fim de organizar próximas aulas quanto para apresentar ao futuro professor como uma atividade deste tipo pode ser feita com seus alunos.
Este breve relato tem a intenção apenas de destacar a contribuição desta linha de investigação em Educação em Ciências que tem sido, ultimamente, até mesmo desmerecida mas que tem importância e aplicabilidade considerável na prática docente. A turma na qual inseri esta atividade hoje mostra-se bastante motivada no aprendizado dos conceitos sobre astronomia e atribuo muito desta motivação ao questionamento de suas concepções alternativas.
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