A extensão na Universidade tem sido considerada pela comunidade acadêmica quase que como um "fardo" a ser cumprido. Dificilmente, projetos de extensão recebem fomento; quando muito apenas bolsas são disponibilizadas aos graduandos envolvidos. Tive a sorte de trabalhar em uma faculdade e, mais especificamente, em um departamento que valoriza a extensão e tenho um projeto que a muito custo está se desenvolvendo. A dificuldade tem se dado por vários motivos: 1) a resistência da própria universidade em dialogar com a escola. No meu caso, coordeno um projeto que propôs inicialmente a recepção de alunos de escolas públicas na biblioteca da universidade. Porém, apesar da biblioteca possuir uma sala equipada, um espaço para receber os alunos da educação básica, a responsável pela mesma me disse que aquele não era o ambiente adequado para "alunos agitados que poderiam não contribuir para a harmonia do ambiente". Pois é... 2) A resistência da própria escola em estabelecer parcerias efetivas com a universidade. Eu e a bolsista de extensão buscamos várias escolas para tentarmos oferecer nossa oficina. Os obstáculos encontrados foram os mais diversos, desde a não permissão da entrada da aluna da graduação na escola até a evidente "picuinha" que existia entre direção escolar e secretaria de educação que apenas tornavam ainda mais burocrática a ida dos alunos à universidade. 3) A minha própria dedicação ao projeto de extensão. Como este é um projeto que apenas está cadastrado no departamento de extensão da universidade, não recebendo qualquer tipo de fomento além da bolsa, eu certamente me vi acomodada em deixar o tempo passar e não ter prazos firmes (como, por exemplo, a prestação de contas a uma agência) a atender. 4) O longo período de greves pelo qual as escolas públicas municipais e estaduais de São Gonçalo e Rio de Janeiro, especificamente, passaram nos últimos quase dois anos. O calendário das escolas, além de tudo, não coincidia com o da minha universidade que, por sua vez, também ainda está em ajuste por conta de uma greve e do recesso da Copa do Mundo.
Citei apenas quatro pontos, mas acredito que dentro de cada um deles resida uma problemática que poderia servir de discussão para vários outros posts. Infelizmente, a parceria desejável entre escola e universidade tão preconizada pelo discurso da Extensão Universitária está distante de ser efetivada.
Gosto muito do livro "Extensão ou Comunicação", de Paulo Freire, e me baseie nele para escrever um projeto de pesquisa que tem como pano de fundo os diversos projetos de extensão do meu departamento. Acredito, fielmente, que nós acadêmicos não somos os "detentores de conhecimento" e que levaremos junto com nossa imensa caridade a luz aos oprimidos. Penso que a troca é fundamental, até mesmo para nós pesquisadores não perdermos o contato com a escola - cenário de nossas pesquisas acadêmicas - e devolvermos a ela propostas de soluções viáveis para seus reais problemas.
Meu projeto de extensão apenas começa a ganhar vida quase um ano e meio após ter sido proposto e já percebo que aquilo que idealizei pouco tem a ver com o que os alunos e professores de ciências necessitam neste momento. Ajustes terão, certamente, que ser feitos. E novas ideias têm surgido conforme o aprendizado.
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